A conclusão que
emerge de tudo isso é que, para que seja possível a ‘uniformidade’, é tomado
como pressuposto que todos os seres sejam privados de todas suas qualidades e
reduzidos para nada mais do que ‘unidades numéricas’; também conclui-se que a
uniformidade nunca será verdadeiramente atingida, enquanto que todos os
esforços realizados, notadamente no domínio humano, somente poderá roubar dos
seres, quase que completamente, suas qualidades próprias, sendo assim,
transformando-os o mais próximo possível em meras máquinas; e as máquinas,
produto típico do mundo moderno, são representantes do mais alto grau da
predominância da quantidade sobre a qualidade. De um ponto de vista social, as
concepções "democrática" e "igualitária" tendem exatamente
ao mesmo fim, pois de acordo com elas, todos os indivíduos são equivalentes
entre si. Essa ideia traz consigo a suposição absurda que todos são igualmente
preparados para qualquer coisa que seja, ainda que a natureza não ofereça
nenhum exemplo de tal "igualdade", pelas razões já dadas, uma vez que
isso implicaria em nada, mas somente uma semelhança completa entre indivíduos; mas
é óbvio que, em nome da suposta "igualdade", que é um dos ideais mais
confusos e mais prezados pelo mundo moderno, os indivíduos estão de fato
direcionados a tornarem-se mais próximo ao outro o tanto que natureza permite,
e para isto, em primeiro lugar, com a tentativa de impor uma educação uniforme
para todos. Não é menos evidente que as diferenças de aptidão não podem, apesar
de tudo, serem totalmente suprimidas, então, uma educação uniforme não dará
mesmos resultados para todos; mas é bem verdade que, embora não se possa
garantir a qualquer pessoa uma qualidade que não possui, é, pelo contrário,
muito provável que suprimam em todos, todas as possibilidades acima do nível
comum; assim, o "nivelamento" trabalha sempre para baixo: de fato,
não poderia funcionar de outra forma, sendo em si apenas uma expressão da
tendência em direção ao mais baixo, isto é, para a 'quantidade' pura, situada
em um nível mais baixo que todas as manifestações corporais, não apenas abaixo
do grau ocupado pelos mais rudimentares seres vivos, mas também abaixo do
ocupado por aquilo que os nossos contemporâneos têm o hábito de chamar de
"matéria inanimada", embora ainda que essa última, uma vez que se
manifesta aos nossos sentidos, ainda está longe de ser totalmente despida de
qualidade.
René Guénon em "O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos"
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