Berdiaev afirma que, o melhor exemplo para onde nos leva a técnica científica, aplicada a vida humana, é o Bolchevismo. Ele assegura os seres
humanos como algo menos que humanos, sustenta que eles não possuem alma e,
portanto, eles não possuem liberdade. Para o ser humano possa ser livre, ele deve ter uma alma e essa alma deva ser a
sede de sua razão, pensamento e sentimento. No mundo ortodoxo, por vezes,
refere-se ao coração como o centro da pessoa. A alma deve ser imaterial, se a
liberdade existe, então o espírito existe. Por outro lado, se a alma é um
objeto material, então, não é livre, apenas se torna uma das muitas coisas
físicas sujeita a tirania da causa e efeito. Portanto, se a liberdade, em qualquer sentido
real da palavra, existe, a alma, deverá ser imaterial, deve ser este coração da humanidade. Sendo assim, não será tiranizada pela causa e efeito, e é deste lugar
que Berdiaev inicia o conceito de liberdade.
Em relação a Rússia, no século XX, desnecessário será dizer que o problema é o Bolchevismo. O Bolchevismo é um conceito materialista muito
consistente de causa e efeito, sobre a tecnologia, as classes sociais e ao
desenvolvimento do potencial tecnológico da humanidade. Desta forma, no seu
centro, a humanidade não é livre. Não existe tal coisa como espírito na
mentalidade bolchevique, e, portanto, não existe tal coisa como a liberdade.
Mas, o ponto de Berdiaev, é precisamente a mesma hipótese das ciências sociais
ocidentais moderna. As ciências sociais são concebidas para prever a reação da humanidade para certos estímulos externos. O
pressuposto por trás disso é que, o espírito humano, é, na verdade, não um
espírito, mas uma coisa física, e, portanto, objetos da causa e efeito. Se tudo
isso for verdade, então, a humanidade pode ser legitimamente controlada por uma
elite científica.
O famoso pensador francês, Augusto Comte, desenvolveu essa
ideia de uma elite científica que dispõe dos certos estímulos para levar a
humanidade para onde quer. As ciências sociais são baseadas nesse conceito. Se
não há alma, se não há espírito, não há liberdade; se não há liberdade, então a
ação e o comportamento humano está sujeito a uma rigorosa e poderosa análise
científica. E ainda implica que, se tudo isso for verdade, então, não há nada
especial em particular sobre a humanidade em relação ao resto da criação e,
assim, eles podem manipular, destruir, pois não existe nenhum conceito de direitos,
deveres e responsabilidades, fora da utilidade. Fora de algo que seja útil ou proveitoso
para a elite. É assim que Berdiaev dá início a sua filosofia: para qualquer coisa que dizemos sobre o mundo faça sentido para uma
pessoa livre, essa deve possuir, de fato, um espírito. Algo que não seja material.
O elemento imaterial é a alma e fonte do pensamento, do intelecto e da vontade
livre.
Trecho transcrito do episódio “Berdiaev e Dostoiévski,
Modernismo, Materialismo e Crítica da burguesia”, Reason Radio Network
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