domingo, 27 de outubro de 2013

O Bolchevismo e as Ciências Sociais (Por Nikolai Berdiaev)

Berdiaev afirma que, o melhor exemplo para onde nos leva a técnica científica, aplicada a vida humana, é o Bolchevismo. Ele assegura os seres humanos como algo menos que humanos, sustenta que eles não possuem alma e, portanto, eles não possuem liberdade.  Para o ser humano possa ser livre, ele deve ter uma alma e essa alma deva ser a sede de sua razão, pensamento e sentimento. No mundo ortodoxo, por vezes, refere-se ao coração como o centro da pessoa. A alma deve ser imaterial, se a liberdade existe, então o espírito existe. Por outro lado, se a alma é um objeto material, então, não é livre, apenas se torna uma das muitas coisas físicas sujeita a tirania da causa e efeito.  Portanto, se a liberdade, em qualquer sentido real da palavra, existe, a alma, deverá ser imaterial, deve ser este coração da humanidade. Sendo assim, não será tiranizada pela causa e efeito, e é deste lugar que Berdiaev inicia o conceito de liberdade.


Em relação a Rússia, no século XX, desnecessário será dizer que o problema é o Bolchevismo. O Bolchevismo é um conceito materialista muito consistente de causa e efeito, sobre a tecnologia, as classes sociais e ao desenvolvimento do potencial tecnológico da humanidade. Desta forma, no seu centro, a humanidade não é livre. Não existe tal coisa como espírito na mentalidade bolchevique, e, portanto, não existe tal coisa como a liberdade. Mas, o ponto de Berdiaev,  é precisamente a mesma hipótese das ciências sociais ocidentais moderna.  As ciências sociais são concebidas para prever a reação da humanidade para certos estímulos externos. O pressuposto por trás disso é que, o espírito humano, é, na verdade, não um espírito, mas uma coisa física, e, portanto, objetos da causa e efeito. Se tudo isso for verdade, então, a humanidade pode ser legitimamente controlada por uma elite científica.

O famoso pensador francês, Augusto Comte, desenvolveu essa ideia de uma elite científica que dispõe dos certos estímulos para levar a humanidade para onde quer. As ciências sociais são baseadas nesse conceito. Se não há alma, se não há espírito, não há liberdade; se não há liberdade, então a ação e o comportamento humano está sujeito a uma rigorosa e poderosa análise científica. E ainda implica que, se tudo isso for verdade, então, não há nada especial em particular sobre a humanidade em relação ao resto da criação e, assim, eles podem manipular, destruir, pois não existe nenhum conceito de direitos, deveres e responsabilidades, fora da utilidade. Fora de algo que seja útil ou proveitoso para a elite. É assim que Berdiaev dá início a sua filosofia: para qualquer coisa que dizemos sobre o mundo faça sentido para uma pessoa livre, essa deve possuir, de fato, um espírito. Algo que não seja material. O elemento imaterial é a alma e fonte do pensamento, do intelecto e da vontade livre. 


Trecho transcrito do episódio “Berdiaev e Dostoiévski, Modernismo, Materialismo e Crítica da burguesia”, Reason Radio Network

Nenhum comentário:

Postar um comentário