Um homem não religioso de hoje ignora o que ele considera
sagrado, mas, na estrutura da sua consciência, ele não poderia ficar sem as ideias
do ser e do sentido. Ele pode considerar esses como aspectos puramente humanos da estrutura da consciência. O que nós vemos hoje é que o homem considera não
possuir nada de sagrado, nenhum deus; mas, ainda assim, sua vida possui um significado,
pois se não houvesse, ele não poderia viver; ele seria um caos. Ele olha para o
ser e não imediatamente entende isso como o ser, mas apenas como significados e
objetivos; ele se comporta na sua existência como se ele tivesse uma espécie de
centro. Ele está indo para algum lugar, ele está fazendo algo. Nós não vemos
nada religioso aqui; apenas vemos um homem se comportando como um ser humano. Mas, como um historiador da religião,
eu não estou certo que não há nada de religioso aqui...
Eu não posso considerar somente o que aquele homem
conscientemente diz: 'Eu não acredito em Deus, acredito na história ", e
assim por diante. Por exemplo, eu não acho que Jean-Paul Sartre dá tudo de si
em sua filosofia, porque eu sei que Sartre dorme, sonha, gosta de música e vai
para o teatro. E, no teatro, ele entra em uma dimensão temporal em que ele já
não vive seu 'historique momento'. Lá ele vive em outra dimensão bem diferente.
Vivemos em uma outra dimensão quando ouvimos Bach. Outra experiência de tempo é
dado em um drama. Nós gastamos duas horas em uma peça, e ainda o tempo representado
na peça ocupa anos e anos. Eu não posso limitar esse homem em um universo
puramente auto-consciente, racionalista em que ele finge morar, já que esse
universo não é humano.
- Mircea Eliade (O Sagrado no Mundo Secular, 1973)
A expressão ateu é vaga, imprecisa, volátil e por demais genérica. Todo ser humano é intrinsecamente religioso. O é querendo ou não. A inteligência do homem é mendiga mediante as forças que o geraram e o inseriram na história. O ser humano é uma criatura totalmente inocente. Da troika poderosa Consciência, Conhecimento e Ciência, a 1ª é fatal. O humano detentor pleno dela e transgressor condena-se a si mesmo. O mistério de dúvida atroz é sabermos se algum humano é entregue à sua própria sorte. Talvez não. A coisa é chiquérrima. Somos conduzidos sob um script de estratério, mistura de estratégia com mistério....:)
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