A unidade transcendental das religiões é verdadeira na
medida em que se refere a metafísica. Na Aula 6 das Palestras sobre a Humanidade
Divina, Vladimir Solovyov apresenta sua concordância com esse ponto, mesmo para
o Cristianismo. Em particular, ele escreve o seguinte sobre o neoplatonismo:
É impossível negar a conexão entre a doutrina de Philo e o Neoplatonismo, por um lado, e do cristianismo, isto é, precisamente a doutrina cristã da Santíssima Trindade, do Deus trino.
As primeiras especulações sobre Deus e Sua vida interior por mestres Cristãos como Justino, o filósofo, Hipólito, Clemente de Alexandria, e especialmente Orígenes reproduziram a verdade essencial da doutrina de Filo e do Neoplatonismo.
Além disso, neste contexto, Solovyov traça todo o caminho de
volta até a teosofia egípcia de Hermes Trismegisto. Isso ocorre porque a
metafísica trata de essências, mas é justo perguntar se ela é exaustiva, quando
se trata de coisas existentes. René Guénon trata disso em sua noção de
possibilidades de manifestação. Nesse sentido, uma coisa existente, ou uma
possibilidade manifestada, metafisicamente não é diferente de uma possibilidade
de não-manifestação. Isso parece ser o que Aristóteles diz quando afirma que
Deus não conhece coisas particulares.
Julius Evola contesta Guénon sobre este ponto. Como vimos
nas discussões sobre o Indivíduo e o Devir do Mundo, para se tornar manifesto,
uma idéia requer um ato de vontade. Como tal, o indivíduo não é um objeto de
contemplação. Evola achava que estava opondo à contemplação de Guénon. No
entanto, eles não estão em oposição, uma vez que estão unidos sob a
"Pessoa", que é ao mesmo tempo o centro de contemplação e de vontade.
Como veremos, Evola não estava se recuperando idéias pagãs como ele acreditava,
mas estava, em verdade, recuperando as idéias cristãs.
Paganismo e a Contemplação
As revelações fundamentais feitas pelos rishis nos Vedas era
a existência de um ser superior e que o mundo manifesto era o resultado de
ignorância, ou avidya. A solução, então, foi dissolver o eu inferior; assim o
conhecimento do eu superior era por si só a libertação. Esse conhecimento é o
fim da ignorância. Este eu superior, em seguida, observa passivamente os
fenômenos de passagem do mundo. No entanto, isto envolve a dissolução da
pessoa, porque já não existe uma vontade. Esse eu não cria os fenômenos, mas
apenas observa.
Esta solução é transportada para o budismo. Ali é
aprofundada a revelação védica quando se vê o sofrimento como inerente ao mundo
fenomenal e amarra este sofrimento ao desejo. A solução budista é, portanto, a
eliminação do desejo, ou da vontade. Mais uma vez, a pessoa é negada, seguindo
este caminho, uma vez que a pessoa tem vontade por definição.
Também para os gregos, a vida mais superior era a de
contemplação. Como os rishis, a ignorância era a causa do sofrimento e a
ignorância era removida pelo conhecimento de si. Este conhecimento levaria a
"justiça", ou ao arranjo e o relacionamento das várias partes da alma
de forma adequada. O mundo, então, era contemplado como um objeto.
A Revelação Cristã
Entre as tradições do mundo, Solovyov explica o carácter
distintivo da Tradição Cristã:
A originalidade do cristianismo não está em seus pontos de vistas [metafísicos] gerais, mas em fatos positivos, não no conteúdo especulativo de sua ideia, mas em sua encarnação pessoal. Esta originalidade não pode ser retirada do cristianismo, e ao afirmá-la, não é preciso tentar provar, contra a história e o senso comum, de que todas as idéias dogmáticas Cristãs apareceram como algo absolutamente novo, que caiu, por assim dizer, prontas do céu.
Solovyov explica a relação entre uma pessoa e uma ideia. Sem
um sujeito a realizá-la, uma ideia seria passiva e impotente. Não poderia
realmente existir. Para alcançar o real, ser completa, uma unidade interior da
pessoa e da ideia é necessária.
Por analogia, a ideia absoluta é igualmente determinada em
sua existência subjetiva interior como uma pessoa especial e única. Essa
percepção requer um Deus, Deus vivo como um fato, e não um Brahman passivo. O
Deus vivo que se revela como "Eu Sou", não com relação a coisas
particulares, mas em relação ao Todo, ou o Infinito.
Ainda assim, a revelação inicial aos Hebreus estava
incompleta e parcial. Eles viram a vontade de Deus como arbitrário em Si mesmo,
mas obrigatório para a humanidade. Mas a compreensão se aprofundou, e a vontade
de Deus não pode ser entendida como despotismo, mas sim como o bem
conscientemente escolhido. Para a pessoa, a compulsão é experimentada como
necessidade interna, ou seja, uma verdadeira liberdade. Assim, o caminho da
salvação, ou da libertação, não é a aniquilação da vontade como nas várias
formas de paganismo, mas sim no alinhamento, ou melhor na submissão, da vontade
pessoal à Vontade divina. Uma vez que Deus é absoluto e infinito, só pode existir
Uma dessas vontades.
Dessa forma, de um lado, há a revelação da personalidade
absoluta de Deus feito aos Hebreus. Por outro lado, a ideia absoluta da
Divindade foi compreendida na Grécia. O conhecimento completo de Deus requer a
síntese de ambos os elementos. E essa foi a tarefa do Cristianismo.
Vladimir Solovyov |
Cologero em Solovyov on the Knowledge of God
Nenhum comentário:
Postar um comentário