sábado, 6 de julho de 2013

Ateísmo: A última Consequência do Cristianismo

Descrença é um movimento num jogo cujas regras são definidas pelos crentes. Para negar a existência de Deus é necessário aceitar as categorias do monoteísmo. Conforme essas categorias caem em desuso, a descrença torna-se desinteressante, e logo não faz sentido. Os ateus dizem que querem um mundo secular, mas um mundo definido pela ausência do deus dos cristãos ainda é um mundo cristão. O secularismo é como a castidade, uma condição definida por aquilo que ele nega. Se o ateísmo tem um futuro, ele só pode estar em um avivamento do cristianismo, porém, a verdade é que o cristianismo e o ateísmo estão declinando juntos.

O ateísmo é um florescimento tardio de uma paixão cristã pela verdade. Nenhum pagão está pronto para sacrificar o prazer da vida em prol de uma simples verdade. É ilusão astuta, não uma realidade sem enfeites, o prêmio. Entre os gregos, o objetivo da filosofia era a felicidade ou a salvação, não a verdade. O culto da verdade é um culto cristão.

Os antigos pagãos tiveram razão em se espantarem diante a fervor grosseiro dos primeiros cristãos. Nenhuma das religiões de mistério em que o mundo antigo abundavam afirmou que os cristãos alegou - que todas as outras religiões estavam erradas. Por isso mesmo, nenhum de seus seguidores jamais poderia tornar-se um ateu. Quando os cristãos insistiram em que só eles possuíam a verdade, condenavam a luxúria do mundo pagão de forma condenatória.


Em um mundo de muitos deuses, a descrença nunca pode ser total. Só pode ser a rejeição de um deus e aceitação de outro, ou então - como em Epicuro e seus seguidores - a convicção de que os deuses não importa, já que eles há muito que deixaram de se preocupar com assuntos humanos.

Cristianismo golpeou a raiz da tolerância pagã da ilusão. Ao afirmar que só existe uma verdadeira fé, deu a verdade um valor supremo que não tinha antes. Além disso fez a descrença do divino possível, pela primeira vez. A consequência ao longo prazo da fé Cristã foi uma idolatria da verdade que encontrou sua expressão mais completa no ateísmo. Se vivemos em um mundo sem deuses, temos o cristianismo para agradecer por isso.

John N. Gray no livro Cachorros de Palha


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