sábado, 26 de outubro de 2013

Uniformidade vs Unidade (Por René Guénon)

A conclusão que emerge de tudo isso é que, para que seja possível a ‘uniformidade’, é tomado como pressuposto que todos os seres sejam privados de todas suas qualidades e reduzidos para nada mais do que ‘unidades numéricas’; também conclui-se que a uniformidade nunca será verdadeiramente atingida, enquanto que todos os esforços realizados, notadamente no domínio humano, somente poderá roubar dos seres, quase que completamente, suas qualidades próprias, sendo assim, transformando-os o mais próximo possível em meras máquinas; e as máquinas, produto típico do mundo moderno, são representantes do mais alto grau da predominância da quantidade sobre a qualidade. De um ponto de vista social, as concepções "democrática" e "igualitária" tendem exatamente ao mesmo fim, pois de acordo com elas, todos os indivíduos são equivalentes entre si. Essa ideia traz consigo a suposição absurda que todos são igualmente preparados para qualquer coisa que seja, ainda que a natureza não ofereça nenhum exemplo de tal "igualdade", pelas razões já dadas, uma vez que isso implicaria em nada, mas somente uma semelhança completa entre indivíduos; mas é óbvio que, em nome da suposta "igualdade", que é um dos ideais mais confusos e mais prezados pelo mundo moderno, os indivíduos estão de fato direcionados a tornarem-se mais próximo ao outro o tanto que natureza permite, e para isto, em primeiro lugar, com a tentativa de impor uma educação uniforme para todos. Não é menos evidente que as diferenças de aptidão não podem, apesar de tudo, serem totalmente suprimidas, então, uma educação uniforme não dará mesmos resultados para todos; mas é bem verdade que, embora não se possa garantir a qualquer pessoa uma qualidade que não possui, é, pelo contrário, muito provável que suprimam em todos, todas as possibilidades acima do nível comum; assim, o "nivelamento" trabalha sempre para baixo: de fato, não poderia funcionar de outra forma, sendo em si apenas uma expressão da tendência em direção ao mais baixo, isto é, para a 'quantidade' pura, situada em um nível mais baixo que todas as manifestações corporais, não apenas abaixo do grau ocupado pelos mais rudimentares seres vivos, mas também abaixo do ocupado por aquilo que os nossos contemporâneos têm o hábito de chamar de "matéria inanimada", embora ainda que essa última, uma vez que se manifesta aos nossos sentidos, ainda está longe de ser totalmente despida de qualidade.

René Guénon em "O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos"

Nenhum comentário:

Postar um comentário